O tigre e a Neve

Ando a ver se ponho em dia alguns filmes, que queria ter visto quando saíram, mas por uma razão ou outra, acabei por não o fazer. Um deles foi o que vi ontem: O tigre e a Neve do Roberto Benigni.
Tinha adorado o A vida é bela, e este, apesar de não ser uma novidade, pois vai na mesma linha do primeiro, mais uma vez, é um filme que pega num sentimento que insistimos em complicar e decompõe-o de uma forma simples que chega a ser desconcertante.
Misturando humor com amor, comove pela forma heróica, como a guerra pessoal de um homem se sobrepõe à guerra real dos homens. No fim vence o Amor, como não poderia deixar de ser, mas a força necessária para essa vitória e a forma como é alcançada são deliciosas.
Normalmente não gosto de comédias românticas, mas este filme, apesar de rotulado como desse género, é muito mais do que isso.
Senti exactamente o mesmo quando fui ver a Arte com o Miguel Guilherme, António Feio e o José Pedro Gomes. Também nesta peça de teatro bestial, uma comédia inteligente disfarça todas a contradições da natureza humana, pondo-nos a pensar em tanta coisa, para além das gargalhadas à volta de um simples quadro branco.
Há uma parte dessa peça, dita de uma forma impar pelo Miguel Guilherme, que nunca esqueci:
"Se eu sou eu porque eu sou eu, e tu és tu porque tu és tu, então eu sou eu e tu és tu. Mas se eu sou eu porque tu és tu, e tu és tu porque eu sou eu, então nem eu sou eu nem tu és tu?
Esta citação foi brindada com montes de gargalhadas no Villaret. Ao mesmo tempo em que as ouvia pensava se teria sido a única pessoa a perceber o seu verdadeiro significado, talvez por isso a tenha memorizado automaticamente
É assim que gosto de ser surpreendida, por coisas simples, mas que no fundo são ricas em conteúdo, cabendo a cada um de nós saber ou ter a sensibilidade para lhes retirar o seu todo...
O tigre e a Neve não tem pretensões de ser um filme complexo com um argumento inovador, apenas uma doce e bela história de amor, que nos mostra como, quando estamos apaixonados, conseguimos mover mundos, sem sequer pensarmos nas dificuldades que temos que ultrapassar para o conseguir.
Já que estou numa de citações, como dizia Nietzsche," Não há factos, apenas interpretações", se calhar por isso adorei e recomendo este filme.
Porra, acho que hoje estou romântica, por isso é melhor ficar por aqui... Foi do filme :)))